Por um bom tempo, o charme da pequena Itupeva, a 70 quilômetros de São Paulo, era ter um único semáforo, na principal avenida da cidade, a Brasil. De um ano para cá, contudo, a cidade ganhou mais oito, e o congestionamento não para de aumentar.
Como na grande maioria dos municípios com até pouco mais de 50 mil habitantes, as vendas de veículos em Itupeva mais que dobraram entre 2007 e 2013, independentemente das baixas que afetaram o mercado como um todo nesse período.
Só em Itupeva a alta das vendas foi de 143%. Em São Paulo, que abriga 11,8 milhões de pessoas, o crescimento foi de apenas 6%. No Brasil como um todo, a média foi de 53% de alta – passou de 2,3 milhões para 3,5 milhões de veículos.
O crescimento da renda, a multiplicação das atividades produtivas como a agropecuária e a interiorização de várias indústrias são fatores que contribuíram para o aumento da demanda por carros nas cidades de menor porte, diz Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Nas grandes metrópoles como São Paulo, Rio e Brasília, com mais de 500 mil habitantes, o crescimento ficou abaixo da média brasileira. "São praticamente vendas para substituição de frota”, afirma Moan.
Já nas cidades com até 500 mil moradores, a média do aumento de vendas é de 80%. O mais alto porcentual foi verificado nas localidades com até 5 mil habitantes, de 142%.
Com 51 mil habitantes, Itupeva começa a sofrer os efeitos da maior frota nas ruas. "Antes não sabíamos o que era congestionamento, mas de uns cinco anos para cá começamos a perceber esse problema, que vem aumentando”, diz a gerente da Panificadora Brasil, Juliana Ortega. "Até pouco tempo eu atravessava a cidade em cinco minutos, agora preciso de 15 a 20 minutos”.
A Avenida Brasil – onde se concentram lojas, restaurantes, bancos e a igreja – por várias décadas teve um único semáforo, mas a partir de 2013 recebeu mais três de um total de oito novos semáforos na cidade. Um deles está na esquina com a Rua Guanabara, em frente à panificadora onde Juliana trabalha há dez anos.
"Havia muitas colisões, ainda que sem gravidade, e os pedestres demoravam para atravessar a rua”, diz Juliana. Ela só lamenta o fato de, junto com os semáforos, ter sido proibido estacionar na via, o que espantou clientela da panificadora. "O movimento caiu 30%.”
Juliana mudou-se para Itupeva com a família há 21 anos e é uma das moradoras que adquiriram seu primeiro automóvel zero, em novembro. "Era um sonho ter um carro novo”, diz ela. As vendas de veículos na cidade saltaram de 549 unidades em 2007 para 1.334 em 2013.
A cidade tem frota de 29.523 veículos, segundo a prefeitura local, o que significa 1,7 habitante por carro, média comparável a de países desenvolvidos, como França e Alemanha. Para Gilson de Souza, da loja de veículos seminovos Brasil Multimarcas, "ter um só farol (semáforo) era o charme da cidade”, mas, com os transtornos do trânsito em razão do crescimento, os novos semáforos são necessários, embora não sejam bem-vistos por parte da população.
A Brasil Multimarcas vende em média 30 a 40 carros por mês, número que em 2013 estava na casa dos 20 a 25. A cidade tem uma única concessionária de veículos, a Nova Ivesa, da Volkswagen, instalada há três anos. "O grupo avalia as oportunidades de negócio e viu que a cidade tem potencial a oferecer”, afirma José Roberto Dias, gerente da revenda. Além dos semáforos, a prefeitura desenvolve uma série de obras de mobilidade, como nova pavimentação de vias, sistema de drenagem e a construção de ciclofaixas.
Fonte: http://www.antp.org.br/website/noticias/show.asp?npgCode=8A51D0FF-980B-4356-BC60-40E516C9FFDC
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